História da Casa do Ribeiro por Fernando Pamplona

domingo, 30 de outubro de 2011


UM SOLAR SEISCENTISTA DE RIBA-TÂMEGA
PARTE II
 

A Casa dos Ribeiros foi solar dos Monteiros, Sousas e Vasconcelos (3). O seu 3º senhor, Manuel de Sousa e Vasconcelos, era escrivão das sisas (1708), cavaleiro da Ordem de Cristo e capitão-mor do concelho de Santa Cruz de Riba-Tâmega (Doc. De 10-1714) e desposou com escritura de dote lavrada a 4-7-1712, D. Maria de Lima de Vasconcelos e Castro, natural de Amarante, filha herdeira de João de Castro e Vasconcelos, dos Vasconcelos de Fontelas, senhora da Casa de Gondeiro (4). …...

A CASA DO RIBEIRO
UM SOLAR SEISCENTISTA DE RIBA-TÂMEGA

PARTE I

Por Fernando de Pamplona

Na região de Riba-Tâmega, na antiga província de Entre Douro e Minho, concelho de Marco de Canaveses, freguesia de Toutosa, Livração, ergue-se, num vale verdejante, imponente solar seiscentista – A Casa do Ribeiro. Massa arquitectónica quadrangular, de linhas severas mas harmoniosas, dá para um vasto terreiro ajardinado, com ramadas nas beiras e a ensombrar os tanques.
Na frontaria ou fachada nobre, virada a Norte, alinham oito varandas corridas, de balaústres de ferro, com mísulas, molduras e sóbrios e elegantes remates rectangulares de granito da região, sobrepujados por uma cornija. Ao nível do solo, quatro grandes portões de madeira, almofadados. Nos ângulos, cunhais com pilastras de pedra. Este conjunto, pelas suas características de estilo, deve datar de meados do século XVII.
A fachada mais interessante e também, por certo, a mais antiga, olha a Nascente. Tem, à esquerda, soberba torre quadrada, coroada de ameias também quadradas, talvez de começos do século XV, pois elas são semelhantes às do Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, erguido no alvoracer de Quatrocentos. Depois, desenham-se janelas de arco abatido, outras em flor de lis ou de moldura rectangular boleada nos ângulos, e rasga-se uma entrada de serviço com remate em arco abatido e escada rústica, além de um arco de volta redonda a nível do solo. Mais adiante, uma escadaria de pedra, de corrimões de linhas sinuosas enroladas em voluta nos extremos, dá acesso à capela, encimada por um sineira de arco redondo e por uma cruz.
A Sul, junto aos ângulos do vasto quadrado, abrem-s duas varandas de granito, uma delas bastante extensa – quase um salão – de colunas à maneira toscana, com golas singelas junto aos capitéis. Ambas disfrutam de largas vistas panorâmicas sobre as serranias do Douro.
É de crer que este solar, como tantos outros, tenha tido várias e sucessivas construções, aglutinadas hoje em um só bloco, e que a edificação primitiva, na sequência da torre quatrocentista, haja sido sacrificada em grande parte ao corpo seiscentista, mais amplo e majestoso, ao sabor da moda do tempo. De facto, tudo leva a pensar que a torre e seus anexos sejam anteriores de mais de um século à parte nobre do solar, porquanto não é de supor que, em pleno século XVII, se erguessem torres ao estilo de Quatrocentos, dado o geral desdém dos arquitectos de antanho, Miguel Ângelo incluído, pelas obras de épocas anteriores, a seu ver ultrapassadas, feias, bárbaras até... A admitir o contrário, estaríamos então perante um arquitecto saudosista e revivalista a ressuscitar uma torre medieva para imprimir cunho senhorial à fisionomia do solar... Um arquitecto diferente do mais, diferente daqueles que, nos velhos mosteiros, igrejas e palácios, faziam acrescentos ou complementos sempre no estilo então vigente e não do tempo da respectiva fundação, sem preocupações de anacronismos, de desarmonias ou de choque de estilo...
A entrada da casa faz-se por um dos portões almofadados da frontaria, através de um harmonioso pátio de pedra e de larga escadaria de dois lanços, divididos por um arco. Os amplos salões têm tectos de masseira ou de gamela, alguns dignos de ver-se. Assim, o do grande salão é brasonado, com painéis e molduras de tons brancos e róseos. No painel central, escudo esquartelado com moldura vistosa em suas curvas e contracurvas: à esquerda superior, as armas dos Monteiros, de prata, com três trompas de caça de negro, embocadas e viroladas de oiro, os cordões de vermelho; à direita superior, as dos Sousas do Prado, da Casa dos condes de Redondo, senhores de Gouveia de Riba-Tâmega, esquarteladas, 1 e 4 de Portugal antigo (5 quinas) e 2 e 3 de prata com leão de púrpura; à esquerda inferior, as dos Vasconcelos, de negro, com três faixas veiradas e contraveiradas de prata e vermelho; e, à direita inferior, as dos Correias (de Belas), de vermelho, com cruz de oiro cantonada de quatro flores de lis; ao alto, o timbre dos Sousas – leão de púrpura, coroado duma grinalda de prata florida de verde (1). O tecto do salão imediato – a chamada sala de visitas – é muito belo em sua talha policromada, de painéis lisos e claros e de molduras ricamente lavradas. Em duas salas, veêm-se duas liteiras do século XVIII, cuidadosamente restauradas.
Dá acesso ao terreiro um portal de linhas maneiristas encurvadas e pináculos piramidais, armoriado na empena com escudo partido, em que figuram os brasões dos Rangéis, com uma flor de lis e bordadura carregada de sete romãs, e dos Pamplonas, com seis burelas de oiro, tudo rematado pelo timbre dos Pamplonas, um leão sainte faxado de cinco peças de oiro (2) – reconstituição recente a substituir portão e grades de ferro sem estilo e de mau gosto, ali colados no século XIX e que destoavam do conjunto. A nascente, outro portal também de moldura de pedra, com uma cruz ao alto, ladeada de pináculos piramidais.
[continua]